quarta-feira, maio 05, 2010

Affonso Romano de Sant'Anna lança Que País é Este?


 Em plena ditadura militar, Affonso Romano de Sant'Anna lança Que País é Este?, uma coletânea de poemas que dão um panorama crítico da sociedade brasilera de então. O poema que dá título ao livro foi publicado com destaque no Jornal do Brasil na data de seu lançamento e, tamanha sua repercussão, foi traduzido para o espanhol, inglês, francês e alemão, transformado em “posters” e colocado em escritórios, sindicatos, universidades e bares. Trinta anos depois da publicação, a Editora Rocco reedita a obra de Sant'Anna, uma leitura obrigatória e atual para entender melhor o Brasil. Neste blog, queremos ouvir a sua opinião sobre Que País é Este?!

 Link:


 * Enquete da semana
Qual é a palavra que define o Brasil?

Quem já leu:

 

Francelino Pereira
( Academia Mineira de Letras )
O jornalista, poeta e crítico Affonso Romano de Sant`Anna, intelectual sempre sintonizado com o seu tempo, certo dia foi tocado, nos jornais e revistas, por uma frase -sintética e interrogativa – com a qual expressei a minha surpresa perante o plenário do antigo prédio da Câmara Municipal de São Paulo, que duvidava da palavra, dos objetivos e do compromisso do então presidente Ernesto Geisel com o processo de abertura política, em curso naquele momento.

Eu vinha do Sul, falando aos gaúchos, paranaenses e catarinenses, na expectativa de participar de uma grande concentração política agendada, com a nossa presença na capital paulista. Cheguei entre abraços e aplausos do plenário e das galerias lotadas.

No curso dos debates, a restrição ao calendário eleitoral do nosso partido que tinha, sabidamente, a iniciativa do presidente da república para o retorno do nosso país à plena democracia. Era preciso mais, desde logo, especificamente do apoio do poder central aos estados e municípios.

Que país é este? indaguei, manifestando a estranheza, natural do presidente nacional de um partido político que estava inteiramente dedicado a viabilizar a transição pacífica para a democracia.
“Que país é este, no qual as pessoas não confiam na firme vontade política do presidente da República de levar adiante a decisão amadurecida e consistente de dar continuidade à plena redemocratização?”.

Era esse o inteiro significado das minhas palavras, mas o nosso jornalista, que é também poeta politicamente engajado e, portanto, intérprete do mais profundo sentimento nacional, captou naquela simples interrogação um conteúdo muito mais amplo. E, partindo daí, escreveu um poema que traduz, até hoje, a perplexidade dos brasileiros diante dos imensos desafios sociais, econômicos, políticos, culturais e éticos que temos enfrentado durante décadas.

Avançamos muito, desde o momento em que a frase foi pronunciada e transformada em poema que podemos classificar hoje, sem hesitação, como imortal. Tão imortal quanto a pedra no caminho de Drummond ou a terceira margem do rio, de João Guimarães Rosa.

Hoje, como sempre, sinto orgulho de ter sido o detonador involuntário do processo criativo que deu origem ao belo poema de Affonso Romano quanto de haver participado daqueles momentos decisivos na História do nosso país.
Representando Minas, cada um de nós contribuiu, da sua maneira, para a conciliação nacional e a compreensão de que o Brasil – como aliado da paz e concórdia – é muito maior do que as suas próprias complexidades e dissensões internas.
Saúdo, com grande alegria, o relançamento em livro do poema de Affonso
Romano, porque a atual e as futuras gerações encontrarão nele não só o retrato de um momento, mas também o perfil de uma grande nação, que soube e sempre saberá responder às suas próprias dúvidas e caminhar com os seus próprios pés, por maiores que sejam os obstáculos



Tereza Cruvinel
(Presidente TV Brasil)
Tropeçando no poema
Era um domingo, era Dia de Reis, era o início de um ano de promessas vagas.
Uma abertura que ia mas não ia como queríamos.

Era um domingo e neste dia podíamos ir ao Rio. Deixar o ambiente asfixiante da Baixada Fluminense onde – quanta pretensão! – vivíamos a experiência da proletarização. Alguns na legalidade, outros na clandestinidade. Estávamos lapidando consciências políticas, acreditávamos. Dom Adriano Hipólito nos abrigava a todos, fôssem trotsquistas, como nós, comunistas do A ou do B. Gente do MEP, do PRC, de organizações que juntavam os cacos da fracassada luta armada.
Era domingo, Dia de Reis, eu e Julio Tavares iríamos à casa dos pais dele, dona Lina e seu Tavares, que não podiam entender aquilo. Então, haviam se sacrificado tanto pelos estudos do filho para ele agora se enfiar naquela vida? Minha mãe, em Brasília, entendia muito menos. Mas dona Lina fazia um rosbife de reis…
Pegamos o ônibus da Evanil na rodoviária de Nova Iguaçu, a Dutra estava limpa e a Avenida Brasil também. Do ponto final, na Praça Mauá, caminhamos até a Praça XV aspirando a liberdade de ser o que éramos de fato: jovens idealistas de classe média e não pseudo-operários naquele vasto campo lúmpem da Baixada. Na Praça XV compramos o JB. Julio ficou com o primeiro caderno, para ler política, e eu fiquei com o Caderno B. O poema tomava toda a capa. Sorvi cada verso num silêncio reverencial, o silêncio que fazemos quando alguém ora por nós, quando alguém fala por nós. Só quando terminei, interrompi o Julio dizendo: Escute isso.
E comecei a ler Que País É Este em voz alta para ele, que também ouviu reverencialmente até o fim.

Era domingo, Dia de Reis, e saimos dali acreditando que bons ventos iam soprar. Muitos anos mais tarde conheci Affonso e contei a ele esta pequena história, da força de sua poesia, naquele momento, sobre nossas vagas esperanças.


“Inegavelmente, este livro – que faz parte e completa o que Affonso Romano de Sant’Anna disse em “A grande fala do índio guarani”- planta o nome de seu autor entre os mais altos da poesia atual brasileira. Omiti-lo em tal grandeza passa a ser, doravante, um ato de ignorância ou de má fé; ou se um sectarismo grosseiramente prejudicial ao que deveria ser um autêntico zelo pela criação literária a serviço da liberdade enquanto eco da multidimencional complexidade do ser humano”
Moacyr Felix
Integrante da chamada “Geração de 45″. Autor de Singular Plural, Neste Lençol, Ênio Silveira, Arquiteto de Liberdades, entre outros livros.




Enquanto o livro não fica pronto, queremos saber o que vocês pensam sobre o Brasil de hoje. O Concurso Cultural deste mês vai premiar as 3 melhores frases de 140 caracteres que respondam à pergunta “Que País é este?”. 
O prêmio: a nova edição do livro autografada pelo autor.
As respostas devem ser enviadas para :e-mail quepaiseesteolivro@gmail.com
Prazo:- até o dia 14/5
Os resultados saem no dia  31/05.

Agenda  do  Autor
[Pré- Lançamentos]

07/5 - Salão do livro de Guarulhos, SP

11/5 - Salão do livro de Foz do Iguaçu, PR

15/5 - Colegio Cervantes, SP

21/5 - Cátedra da Leitura Puc-Rio: "Brasilidades”

24/5 - USP seminário sobre Jorge Amado

25/5 - Maceió: Abertura Congresso Literatura Oral

27/5 - UFBA seminário sobre Jorge Amado


Nenhum comentário:

Postar um comentário